quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A IGREJA E A INQUISIÇÃO

Hoje a sociedade é pluralista. Cada um pensa o que quer e diz o que pensa. Por isso, vê a Inquisição como um escândalo. Mas na Idade Média não era assim. A sociedade, como um todo, era cristã. A fé devia ser defendida a qualquer preço. A heresia representava um câncer no corpo social, um furo no barco onde viajava toda a comunidade. Devia ser eliminada pela raiz. E o meio mais eficaz era a pena de morte.

Não podemos julgar acontecimentos de um passado remoto com critérios modernos. Seria um anacronismo. Para entendermos a Inquisição, precisamos levar em conta os costumes e a mentalidade daquele tempo. Para os medievais, a espada e o sangue faziam parte da vida diária.

A fogueira já existia para os crimes contra a fé e os crimes comuns, bem antes da Inquisição (legalizada em 1231). Já em 1022 o rei Roberto (da França) condenou à fogueira 13 chefes de seita. Em 1052, o duque Guilherme da Aquitânia fez o mesmo em Tolosa.

O Estado queimava os hereges porque representavam um perigo, não só para a fé, mas também para a nação, pois especialmente os cátaros e albigenses eram contra o casamento e outros valores da sociedade. Às vezes, o povo mesmo jogava o herege na fogueira, por conta própria, sem julgamento. É o que aconteceu em Cambrai em 1077: a multidão fechou herege numa cabana e ateou fogo.

Como se vê, não podemos pensar que a Igreja seja a única responsável pela Inquisição. Antes, quem levava os hereges à fogueira era o poder civil. Os peritos em Teologia julgavam se havia crimes contra a fé. Mas a sentença e a execução ficavam por conta do Estado. César Cantu escreveu:

O culpado, pelo fato de ser reconhecido herege, não pertencia mais à Igreja. A partir daí, ele se transformava em criminoso do Estado, e o Estado não executava uma sentença da Inquisição, mas aplicava a pena estabelecida pela sociedade civil” (História dos Heréticos da Itália, página 193).

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